” Um contador de histórias”
Na etapa final da edição do livro Retratos de Família soube que precisaria de um texto. Esse texto, seria o prefácio de meu livro. Interessante observar que a tarefa não é nada fácil, afinal você pede a uma pessoa que escreva sobre você. Pois bem, rapidamente vários nomes vieram a minha mente. Numa análise mais profunda, percebi que o ideal seria um texto imparcial, escrito por alguém que gostasse de meu trabalho e conhecesse de perto minha história. Passei então a bola para meu amigo Fernando Neves – jornalista, que apesar de ser Neves não tem grau de parentesco. Ficamos emocionados quando recebemos o texto. Segue abaixo o prefácio:
” Um contador de histórias”
Alguém provavelmente já disse que há diversas formas de se contar uma história. Ou diversas verdades contidas nela e que são descobertas pelo talento dos narradores ou pelo senso de observação dos ouvintes ou leitores. Ou simplesmente que existem na prática diversas versões e não verdades porque o que as torna fatos incontestáveis – outra maneira de chamar a verdade – é a crença de alguém nela. O que a transforma automaticamente em verdade, pelo menos para esse crente. A imagem seria então mais uma dessas versões da história que possa potencialmente se transformar nessa verdade única que se busca – e por vezes não se alcança. Ou, de outra maneira, a imagem é a porta para mais uma numerosa galeria de versões que podem se tornar verdade. Ou não, mas independente dessa incerteza na busca pelo certo, uma coisa é certa e garantida: a imagem ficará gravada em nossa memória.
Para sempre.
Pois é exatamente isso o que nos propõe Tyto Neves quando nos coloca diante de uma fotografia feita por ele. Pode ser ou não uma verdade, ou certeza ou nada disso ou um pouco de cada. Mas o que ele sempre nos garante é que nunca passaremos incólumes por ela, que muito certamente essa imagem integrará nosso acervo guardado em nossa memória. Entre pensar em captar a imagem e captá-la há todo um envolvimento sensorial e intelectual, que se mistura e vibra na cabeça de Tyto Neves, às vezes inclusive causador de algumas dores de cabeça em nosso amigo; mas também por vezes são vibrações tão rápidas que não causam impacto físico. A ação dos neurônios codificando e decodificando, acessando a memória, opinando e decidindo pode acontecer também sem deixar vestígios ou provocar alterações físicas. De tão rápido e sutil é esse processo, que nem mesmo ele, o dono do cérebro, olhos, ideias e memórias onde se processa essa ebulição sensorial, consegue percebê-la plenamente no plano consciente. Ao fim, curiosamente, o único sinal físico que sempre se manifesta como prova de que houve uma efervescência criativa em
Tyto Neves é o movimento de seu dedo no disparador.
E a partir dele, o resto é história contada em imagem. Assim, esta obra surge como um desafio para esse profissional acostumado a se expressar pela captação de imagem: pôr em palavras muito do que corre em sua cabeça entre o primeiro passo de fazer uma foto – a decisão de fazê-la – e o movimento físico de seu dedo no disparador. Uma tarefa que poderia ser difícil dada a natureza de sua atividade, mas que, para alegria de quem já leu e de você que vai ler este livro, se revela – sem trocadilho – como uma tarefa cumprida. Uma imagem bem acabada de um profissional.” Fernando Neves Jornalista